quinta-feira, novembro 15, 2001

Acho que estas pessoas assim me tocam tanto pois lembram meu pai. Ele era assim , perverso estúpido. Vivia me dizendo coisas horríveis. "Você é uma droga", "sua burra". E eu era uma das primeiras alunas da escola, quando mostrava uma nota nove do boletim a resposta: deveria ter tirado dez; se mostrasse dez: não fez mais do que a obrigação. Era um sujeito violento com as palavras, agredia o tempo todo. Haviam vezes em que chegava transtornado do trabalho, suas narinas ficavam insulfladas, os olhos vermelhos. Nesses dias ( e eram muitos) não se podia nem chegar perto dele. Eram farpas, agullhadas e pedregulhos para todos os lados. Vivia sempre com essa ansiedade dentro de mim: como papai vai chegar em casa? Vivíamos briagando e eu chorando. Tão logo me formei, saí de casa, fui fazer residência médica e passeu a morar no hospital. Nunca mais voltei à morar em casa. Fiz várias tentativas de convrsar com ele, mas nunca consegui. Ele passou pela vida assim, em desarmonia, sugando as pessoas que o cercavam, agredindo. Digo passou pela vida pois o tempo dele já se foi. Se ele morreu? Sim, vive por compulsão, por dever, morreu em vida, e não se deu conta disso.