terça-feira, agosto 28, 2001

Yasmin li depois do assalto: tentando encontrar a dolina
Fui assaltada. A sensação de ter uma arma apontada é horrível. Ë impressionante a calma desses "menores" de cerca de 16 anos. Assaltaram-me em um lugar e depois encontrei com eles cheirando cola no outro. Penso: que chance tem um adolescente desses de ser alguém, jogado nas ruas? Haviam outros já adultos "dando cobertura". Senti uma grande revolta pois fica tolido o meu direito de ir e vir, além do que estes menores são tão certos da impunidade e tão apavorados de medo durante o assalto que atirariam por qualquer coisa. E o que fazer? A polícia diz que levar para a delegacia não adianta pois vão ser logo soltos. Também acho que essas pessoas não deveriam ficar em celas, mas jogados na rua? Para assaltar mais gente? Para serem promovidos a traficantes de drogas? Nessa apatia que se formou em nossa sociedade onde a desgraça acontece sempre com o vizinho fica todo mundo dizendo: ah é assim mesmo, ah, não temos o que fazer. Nesse governo no garotinho ( com g minúsculo) a violência no Rio de Janeiro aumentou muitíssimo: está descontrolada. Enquanto ele faz comícios evangélicos para ser eleito presidente, o carioca fica trancado dentro de casa cercado por altas grades com medo. Vou começar a pensar em abandonar o país que amo, alguém sabe quanto custa uma passagem para a Nova Zelândia?

domingo, agosto 26, 2001

Estou estarrecida com a crueldade do ser humano. O caso dos portugueses chocou-me profundamente. O quão bárbaros podemos ser e a que ponto podemos chegar. E o que fazer com um sujeito desses? Prender? Durante quanto tempo? Isto resolve? Ele tem alguma chance de se recuperar? É o lado hipócrita da sociedade brasileira, somos uns doces, bons cristãos, não adimitimos a pena de morte, mas uma multidão de miseráveis no meio da rua. O tráfego impera no Rio , quando sabemos que acabar com ele não é coisa tão difícil. Somos uns merdas. Sem voz ativa, capachos. A bondade e a passividade são coisas muito diferentes. Como eu ouvi uma vez: de bom para babaca é um pulo.
Achei um CD de Beethoven guardado e coloquei para tocar no computador. Meu microsystem quebrou já há um ano e eu ainda não mandei consertar. Sinto no entanto falta de escutar meus clássicos. Para escrever não tem coisa melhor, chego a ficar alegre. Interessante que algumas pessoas estigmatizam as que gostam de escutar música clássica. Como se fosse um rótulo. No entanto quando eu ia ao Municipal ( isto porque não posso sair muito de casa), na galeria é claro, via muitas pessoas comuns, com vestes simples e cujo único prazer era ouvir. Muita gente que lê este blog detesta clássicos eu sei, mas eu Yasmin Li, adoro.

sábado, agosto 25, 2001

Hoje à noite tenho vários textos para preparar. Estou ministrando um curso e na última aula acho que nào estava lá muito bem. Resolvi fazer bonito nas próximas. Desta forma dedicarei esta preciosa madrugada de sábado para este propósito. Aliás sábados e sextas-feiras são os meus dias preferidos. Sinto uma calma, uma paz inigualável. Bom para pensar, para surgir inspiração.

quinta-feira, agosto 23, 2001

Estou cansada de ser minoria. Cansada de ser do contra, de sentir que tenho de fazer força. Gostaria de morar em algum lugar onde a maioria das pessoas pensasse como eu. Chega de sofrer.

segunda-feira, agosto 20, 2001

No O Globo de ontem: 51% dos americanos viajam com intenção de ir às compras. Sem comentários.

sábado, agosto 18, 2001

Uma coisa que eu preciso postar é sobre o jornaleiro aqui perto de casa. Eu aos fins de semana sempre desço e converso algum tempo com ele. É um sujeito de uns 60 anos, magrinho, rosto esquisisto, parece um dos presonagens da escolinha do professor Raimundo. Em geral eu compro um jornal, reclamo do preço das revistas mas sempre levo alguma. Mais umas outras eu "filo". Enquanto isso observo as pessoas que chegam para comprar . Existem aquelas que chegam para compar o jornal Extra e o Dia, em geral são velhinhos. Pessoas maduras que apressadamente compram O Globo, o JB sai pouco. A maioria dos compradores no entanto é mesmo de gente "dura". O jornaleiro é um barato. Um dia precisava pegar um taxi e perguntei se ele trocava uma nota de 50 reais. Ele disse que não podia e me ofereceu vinte reais- depois você me devolve- ele disse. Eu fiquei meio aturdida pois não estou habitudada a esse tipo de atitude na cidade do calote. Ele não entendeu a minha perplexidade: catou umas moedas num pote que era uma garrafa plástica cortada ao meio e acrescentou: se quiser esperar mais um pouquinho entra mais dinheiro mas com essas moedas aqui... já dá pro taxi? Tem um bêbado que vivia pela rua que ele "empregou" na banca. O bêbado" ( que agora já não se embriaga mais como antes) carrega os jornais que chegam ainda de madrugada, compra mais tarde para o jornaleiro um pingado com pão na chapa numa padaria que é bem longe e vem trazendo pela rua o café da manhã do jornaleiro, no copo de vidro e tudo. O "auxiliar" colocou uma cadeira de praia perto da banca e um banquinho. Vez por outra levanta-se pois os velhos sempre querem um lugarzinho para descansar. O jornaleiro guarda dentro da banca bolsas de compras de pessoas que carregadas voltam da feira e do mercado sem gás para levar tudo até em casa. Guarda bolsa de umas senhoras pobres que vem buscar donativos numa associação de caridade aqui perto, em cima da banca guarda o caixotinho que o guardador de carros da rua usa para descansar. A banca tem um movimento danado mas pouca gente compra. E ele está sempre lendo alguma coisa, não enxerga muito bem e fica com as revistas quase em cima do nariz, concentrado , vai pegando os jornais e dando o troco sem nem olhar direito para as pessoas. Hoje ele arrumou um radinho que tocava música brega enquanto ele se deliciava com um de suas revistas. Reclamei da revista que eu tinha levado semana passada, havia muito anúncio e pouco assunto. Ele levantou um pouco os olhos da revista e disse: trás aí que a gente troca.
Aqui perto de casa existe uma feira simpática e eu resolvi sair para comprar comida. Há quanto tempo eu não ia à feira. Tinha esquecido como é bom barganhar preços, provar biscoitinhos, conversar com os feirantes. Essas pessoas em geral estão sempre de bom humor, alegres. Eu que já há algum tempo só conseguia fazer compras de legumes no "hortifruti"por telefone tinha até esquecido como é bom ver legumes e verduras fresquinhos sem aquele jeito de coisa encalhada e fria do sacolão. Quando o feirante coloca o legume no saco para você ele dá uma caprichada, coloca mais um caho de uva, mais uma banana, um jiló. Comprei até rabanetes, coisa que eu já tinha até esquecido o gosto. Há anos não provava nenhum. Voltei para casa cheia de sacolas e feliz.

quarta-feira, agosto 15, 2001

A minha vida é solitária. Tenho muitos amigos mas sinto-me só. Sem angústia por causa disto. Ser só é bom pois sinto segurança para levar a vida para frente. É como se eu fosse recortada do mundo, consigo ficar comigo mesma. Preciso disto. Meus amigos são maravilhosos, não tenho timidez, e se der uns telefonemas a casa enche de gente. Estranho isso. Também não ligo de passar dias sem ver ninguém, para falar a verdade a vida para mim é como um filme. Já houveram épocas em que eu ficava muito tempo sozinha e eu me divertia vendo o mundo, as pessoas no restaurante a quilo, o jeito delas na fila do banco, coisas engraçadas no metrô. Uma expectadora da minha própria existência.

segunda-feira, agosto 13, 2001

A criação de algo novo é um momento sublime. Pergunto-me as vezes se foi eu mesma que fiz isto ou aquilo, pois ficou tão bacana que eu nem acredito. E quando não consigo criar nada a vida fica parva, sem brilho. Necessito estar sempre em dia comigo mesma, sempre tentando me revelar ao mundo atraves das coisas que produzo. Acostumei com este sofrimento. No entanto, às vezes, para sofrer menos, eu tento esquecer essas coisas e me concentrar no mundo, em ganhar dinheiro, pagar conta, passear. Mas tudo na verdade é um grande engodo, pois se parar vejo dentro de mim um imenso vazio.
China torce pelo nascimento de ursos panda | BBC BrasilDepois de assassinar os animais para fazer remédios, os chineses tentam salvar os bichinhos. Talvez seja tarde demais.
O tempo não perdoa nada. Preciso preparar um palestra mas a vontade me abandonou. Cheguei a sonhar com ela, sonhei que não havia dado tempo de preparar. O segredo de se preparar uma palestra é concentrar no conteúdo e deixar a aparência de lado. Eu sei disto mas às vezes, quando dou por mim, estou bolando slides, apostilas e coisas inúteis. É como entrar na na net , penso em ler as mensagens de correio , postrar e sair porém quando dou por mim fiquei mais de uma hroa conectada. O tempo atropela novamente, e o preço que eu pago vem direitinho na conta telefônica.

sábado, agosto 11, 2001

Minha mesa de trabalho cheia de coisas por todos os lados. Vez por outra isto acontece, e eu fico no meio de montanhas de papéis, livros, canetas, lápis. O leaptop e a impressora em geral ficam cobertos pela papelada, vez por outra uma caneca con restos de chá de camomila, café, migalhas de pão. Engraçado que nestas épocas eu produzo muito mais.Tomara.

quinta-feira, agosto 09, 2001

Eu, Yasmin Li sou a cópia de mim mesma. Sempre que penso que me encontrei em algum lugar, percebo que já não estou mais ali e isso me obriga a ir mais além e mais além num movimento intenso de busca de coerência interna. Sou a cópia de um original inacabado.

terça-feira, agosto 07, 2001

Não gosto muito de postar mensagens. Mas essa é realmente parecia comigo Se eu pudesse... Mahatma Ghandi Se eu pudesse deixar algum presente a você, Deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável: Além do pão... o trabalho. Além do trabalho... a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.

segunda-feira, agosto 06, 2001

Aquela sensação novamente. Eu desejo que a noite se prolongue, quando eu posso ficar em paz. É que o dia me assusta pois tenho medo de que ele não seja suficientemente longo para caber as coisas que preciso fazer. À noite não tenho aquela sensação de estar devendo, ela é calma tranqüila. Interessante que em outras épocas eu adorava dirigir à noite, bem tarde, na madrugada. Agora nem tanto. A noite me assusta, cada sinal, os outros carros parados ao meu lado. Copacabana então é horrorosa para se ir à noite. Um bairro sujo, degenerado.Pessoas esquisistas atravessam, parece que o lado podre das pessoas, que se esconde durante o dia, aflora à noite. Olhei para um cara em uma moto que me xingou porque eu estava pedindo uma informação, a rua estava vazia e ele se espremeu fazendo questão de passar entre o meu carro e o taxi. Disse umas bobagens. Seu rosto era disforme, um jeito de anormal. Podia ter xingado ele também mas a grosseria foi tão grande que me surpreendeu e eu fiquei com medo. Pensei em pegar o celular e ligar para a polícia, dizer alguma coisa , que eu achava que ele estava estranho, que estava correndo muito, alguma coisa para que ele tomasse uma dura, mas não consegui ver a placa. Aqula coisa anormal me assustou, seu rosto branco, largo, moto preta , roupas pretas. Eu não tive coragem para xingá-lo também, mas se ele por acaso ler esse blog saberá que dentro de mim havia força suficiente para fazê-lo sofrer muito por causa daquela grosseria, meu pensamento é extremamente violento.Mas sei que se colocasse em prática as coisas que penso ficaria com pena dele depois. E ele não merece este sentimento. Uma dura, um coturno no trazeiro, uma arma apontada para a cabeça durante alguns minutos seria de bom tamanho. Não esquecerei os óculos de uma próxima vez. Míopia é uma droga.

domingo, agosto 05, 2001

Yasmin Li descobre que sumiram com seus arquivos:
Meus arquivos sumiram! Para onde essa gente mandou o que escrevi?! Minha nossa, simplesmente não se consegue acessar nada da história da Dolina. Um horror.

sábado, agosto 04, 2001

Sempre aos sábados pela manhã eu vou à rua especialmente comprar meu café da manhã e jornal. Converso um pouco com o jornaleiro, caminho até a padaria e compro uns pães quentinhos, às vezes pão de queijo e venho mastigando-os pelo caminho, com o jornal debaixo do braço. Hoje porém recusei-me a comprar o jornal. A morte não é um show e recusei-me a ficar na platéia. Todos os jornais traziam a mesma matéria na capa, alguns com fotos repugnates; comprei uma revista de decoração. O que esses caras estão pensando? Será que fariam isso se fosse alguém da família deles? A dor dos outros pode ser explorada para se ganhar dinheiro? Uma coisa é notícia, informação, outra é essa festa macabra que essa gente está promovendo. Canalhas.

sexta-feira, agosto 03, 2001

Gostaria que hoje durasse uma eternidade. Preciso esticar esta sexta-feira e diminuir esta anguústia que me diz que não vai dar. Preecisa entrar alguma luz através dessa dolina.

quarta-feira, agosto 01, 2001

Tenho um mundo de trabalho para hoje. Tem acontecido uma coisa engraçada, quando cai a noite, nasce mim um desejo de que ela se prolonque. Eu faço um chá, trabalho no computador, feliz. No entanto quando o sono aparece, eu luto contra ele, com todas as forças. Gostaria sinceramente que a noite fosse maior e que a sensação de bem estar pudesse se prolongar. O dia e as coisas que tenho que conseguir fazer dentro dele me assustam. Uma corrida de obstáculos. O tempo, para variar está sempre contra mim. Acho que ele ri enquanto a realidade me atropela. Miserável.
Meu maior inimigo: O tempo.